Porque o Software está dominando o Mundo - Marc Andreesen

Um nível acima

Porque o Software está dominando o Mundo - Marc Andreesen

Postado por Juliano Araújo Farias em 02 de month_sep de 2011 às 15:39
Esta semana, a Hewlett-Packcard (de cuja diretoria eu faço parte) anunciou sua intenção de deixar de lado seu negócio de PCs em favor de investimentos mais pesados em software – onde vê um melhor potencial de crescimento. Enquanto isso, o Google está planejando comprar a fábrica de celulares Motorola Mobility. Ambas as movimentações surpreenderam o mundo tech. Mas ambas também estão alinhadas com uma tendência que tenho observado, e que me deixa otimista sobre o crescimento futura das econômicas americana e mundial, a despeito do estremecimento recente  no mercado de ações.

Sendo sucinto, o software está dominando o mundo.

Mais de dez anos após a bolha das ponto.com nos anos 90, um punhado de companhias da Internet, como Facebook e Twiiter estão causando controvérsia no Silicon Valley, devido ao rápido crescimento de sua valorização nos mercados privados, e até mesmo sucessos ocasionais de IPO (oferta pública inicial; quando uma empresa entra pela primeira vez no mercado de ações). Com as cicatrizes da febre das ponto.com ainda frescas na psique do investidor, as pessoas estão se perguntando, “Esta não é apenas uma nova bolha perigosa?”

Eu, junto a outros, tenho argumentado o outro lado da história. (Sou co-fundador e parceiro investidor de capital na firma Andressen-Horowitz, que investou no Facebook, Groupon, Skype, Twitter, Zynga e Fourquare, entre outras. Também sou investidor pessoal no LinkedIn). Nós acreditamos que várias das novas companhias da Internet estão construindo negócios reais, com alto crescimento, de margem larga e altamente defensáveis.

O mercado de ações realmente odeia tecnologia, como mostram os sempre baixos coeficientes de capitalização de benefício de grandes companhias de tecnologia públicas. A Apple, por exemplo, tem um P/5 ratio de aproximadamente 15.2 – quase o mesmo que mercados de ações mais comuns, apesar da imensa lucratividade da Apple e de sua posição dominante no mercado (A Apple, nas últimas duas semanas se tornou a maior companhia na América, a julgar pela capitalização de mercado, superando a Exxon Mobil). E talvez, mais sintomaticamente, bolhas não acontecem quando as pessoas estão constantemente gritando “Bolha!”.

 

Mas muito do debate ao redor da valorização financeira, em oposição ao valor intrínseco básico das melhores companhias novas do Silicon Valley. Minha própria teoria é que nós estamos no meio de uma dramática mudança tecnológica e econômica, na qual companhias de software parecem estar em posição para tomar largas fatias da economia.

Mais e mais dos principais negócios e indústrias estão sendo feitos em software e entregues como serviços online – de livros à agricultura à defesa nacional. Muitos dos vencedores são companhias de tecnologia empreendedoras no estilo do Silicon Valley que estão invadindo e rompendo estruturas industriais já estabelecidas. Nos próximos 10 anos, eu espero que várias outras indústrias sejam agitadas por softwares, com novas companhias de classe global do Silicon Valley fazendo a mudança de curso em mais casos do que não.

Porque isto está acontecendo agora?

Há seis décadas desde a revolução dos computadores, quatro décadas desde a invenção dos microprocessadores, e duas décadas na ascensão da moderna internet, toda a tecnologia requerida para transformar indústrias através do software finalmente funciona e pode ser entregue em escala global.

Mais de dois bilhões de pessoas agora usam a Internet banda-larga, talvez 50 milhões a mais do que há uma década, quando eu estava na Netscape, companhia que e co-fundei. Nos próximos 10 anos, eu espero que pelo menos cinco bilhões de pessoas no mundo inteiro possuam smartfones, dando a cada indivíduo com um fone desses acesso instantâneo ao poder completo da internet, a todo momento de todos os dias.

Por fim, ferramentas de programação de software e serviços com base na internet tornam fácil lançar novas startups globais movidas a software em várias indústrias – sem precisar investir em nova infraestrutura e trinar novos empregados. Em 2000, quando meu sócio Ben Horowitz era CEO da primeira empresa de computação em nuvens, LoudCloud, o custo para um cliente rodar uma aplicação web básica era de aproximadamente $150,000 por mês. Rodar a mesma aplicação hoje na nuvem da Amazon custa aproximadamente 1,500 por mês.

Com custos de startups mais baixos e um mercado para serviços on-line vastamente expandido, o resultado é uma economia global, que pela primeira vez estará totalmente conectada digitalmente – o sonho de todo cyber-visionário do começo dos anos 90, finalmente realizado, uma geração mais tarde.

Talvez o mais dramático exemplo deste fenômeno do software abocanhando negócios tradicionais seja o suicídio da Borders e correspondente ascensão da Amazon. Em 2001, a Borders concordou em passar seus negócios online para a Amazon, sob a teoria de que as vendas de livros on-line eram não-estratégias e desimportantes.

Ops!

Hoje, o maior vendedor de livros do mundo, Amazon, é uma companhia de software – sua capacidade principal é a fantástica engenharia de software para vender praticamente tudo online, sem necessidade de varejistas. Ainda por cima, enquanto a Borders está apanhando nos últimos espasmos da falência próxima, a Amazon, pela primeira vez, reorganizou seu website para dar mais visibilidade a seus livros digitais Kindle do que aos livros físicos. Agora, até as próprias prateleiras são um software.

 Hoje, o maior serviço de vídeo em número de usuários é uma companhia de software: Netflix. Como a Netflix eviscerou a Blockbuster é outra história, mas agora outros provedores de entretenimento tradicionais estão enfrentando a mesma ameaça. Comcast, Time Warner e outros estão respondendo, ao transformarem em companhias de software, com esforços tais como TV Everywhere, que libera conteúdo do cabo físico e o conecta a smartfones e tablets.

As companhias dominantes de música hoje também são empresas de software: o iTunes da Apple, Spotify e Pandora. Gravadoras tradicionais cada vez mais só existem para prover companhias de software com conteúdo.  A receita dos canais digitais totalizaram $4.6 bilhões em 2010, subindo para 29% da receita total, a partir de 2% em 2004.

As companhias de entretenimento que estão crescendo mais rápido são as de videogame – novamente, software – com crescimento industrial de $60 bilhões, tendo partindo de $30 bilhões ano passado. E a grande companhia de videogame que cresce mais rápido é a Zynga (que faz inclusive o Farmville), ao passo que fornece seus games inteiramente online. As vendas do primeiro trimestre deste ano cresceram para $235 milhões, mais que o dobro no mesmo período do ano passado. A Rovio, que faz o jogo Angry Birds, espera fazer $100 milhões este ano (a companhia quase faliu quando estreou o famoso jogo no iPhone no fim de 2009). Enquanto isso, nomes tradicionais do ramo de videogame como Electronic Arts e Nitendo tem visto seus ganhos estagnarem e caírem.

A melhor companhia nova de produção de filmes das últimas décadas, a Pixar, era uma companhia de software. A Disney – a Disney! – teve de comprar a Pixar, uma companhia de software, para continuar relevante no mercado de filmes animados.

A fotografia, é claro, foi abocanhada pelo software há muito tempo atrás. É virtualmente impossível comprar um aparelho celular que não inclua uma câmera movida a software, e as fotos são upadas automaticamente para a Internet, para arquivamento permanente e compartilhamento global.  Empresas como Shutterfly, Snapfish e Flickr tomaram o lugar da Kodak.

 A maior companhia de marketing direto hoje é uma empresa de software – Google. Agora, a ela devem juntar-se o Groupon, Living Social, Foursquare e outras, que estão usando software para devorar a indústria de marketing de varejo. O Groupon gerou mais de $70 milhões em receita em 2010, com apenas dois anos no negócio. 

A companhia de Telecom que cresce mais rápido hoje é o Skype, uma empresa de software que acaba de ser comprada pela Microsoft por $8,5 bilhões. Por outro lado, a CenturyLink, a terceira maior empresa de Telecom nos EUA, com uma capitalização de mercado  de $20 bilhões, tinha 15 milhões de linhas de acesso no fim de junho – declinando a uma taxa anual de 7%. Excluindo a receita de sua aquisição da Qwest (provedor de serviços de voz, internet e televisão digital), a receita da CenturyLink declinou mais de 11%. Enquanto isso, as duas maiores empresas de telecom, AT&T e Verizon, tem sobrevivido porque estão se transformando em empresas de software, em parceria com a Apple e outros fabricantes de Smartfones.

A empresa de recrutamento que mais cresce hoje em dia é o LinkedIn. Pela primeira vez em todos os tempos, no LinkedIn, profissionais podem manter seus próprios currículos para recrutadores pesquisarem em real time – dando ao LinkedIn a oportunidade de abocanhar a lucrativa indústria de recrutamento, de $400 bilhões de doláres.

O software também está dominando muito da cadeia de valor de indústrias que costumam ser vistas como essencialmente não virtuais.  Nos carros atuais, é o software que comanda as engrenagens, controla os mecanismos de segurança, entretém os passageiros, guia os motoristas aos destinos e conecta cada carro a redes de celular, satélite e GPS. Os dias em que um aficionado por carros podia consertar seu próprio veículo ficaram no passado, devido principalmente ao grande presença de software. A tendência em direção a veículos híbridos e elétricos vai apenas acelerar a mudança para software – carros elétricos são completamente controlados por computadores. E a criação de carros sem motorista guiados via software já está sendo estudada pelo Google e pelas maiores empresas automobilísticas.

A líder de varejo não virtual hoje em dia, Wal-Mart, usa software para melhorar suas capacidade de logística e distribuição, que é razão de ter esmagado a competição. O mesmo vale para o FedEx, melhor definido como uma rede de software que por acaso tem caminhões, aviões e postos de distribuição acoplados. E o sucesso ou falha de linhas aéreas hoje e no futuro depende de sua habilidade em dar preço as passagens e otimizar rotas e bônus corretamente -  com software.

Empresas de combustíveis foram inovadoras pioneiras em supercomputação e visualização e análise de dados, que são cruciais paras os esforços atuais de exploração energética. A agricultura está sendo igualmente cada vez mais apoiada por software, incluindo análise via satélite de solos, ligadas a software de algoritmos que fazem seleção de sementes por acre.

A indústria de serviços financeiros tem sido visivelmente transformada via software nos últimos 30 anos. Praticamente toda transação financeira, desde alguém comprando um copo de café a alguém negociando um trilhão de dólares em derivativas padrão, é feita em software. E vários dos líderes em inovação de serviços financeiros são empresas de software, tais quais a Square, que permite a qualquer pessoa aceitar pagamentos com cartão de crédito pelo celular, e o PayPal, que gerou mais de $1 bilhão de receita no segundo trimestre deste ano, 31% a mais do que o ano passado.

Serviços de saúde e educação, do meu ponto de vista, são os próximos da fila na transformação baseada em software. Minha firma de capital de risco está apoiando startups agressivos nesses dois campos gigantes e fundamentais. Acreditamos que esses dois campos, que são historicamente muito resistentes à mudança empresarial, estão maduros para grandes novas empreitadas com base em software. 

Até mesmo a defesa nacional está cada vez mais baseada em software. O moderno soldado combatente está envolto numa rede de software que provê informação, comunicação, logística e guia para armas. Mísseis controlados por software iniciam combates aéreos sem por pilotos em risco. Agências de inteligência fazem mineração de dados com software para descobrir e rastrear potenciais planos terroristas.

Empresas de todos os ramos precisam entender que uma revolução de software está a caminho. Ela incluiu mesmo indústrias que já são baseadas em software. Grandes empresas incubadoras de software como Oracle e Microsoft estão cada vez mais ameaçadas com irrelevância por novas ofertas de software como Salesforce.com e Android (especialmente num mundo onde o Google for dono de uma grande fábrica de handsets).

Em alguns ramos, particularmente aqueles com um forte componente não-virtual, como combustíveis, a revolução de software é primariamente uma oportunidade para incubações. Mas em muitos ramos, novas idéias de software irão resultar  no surgimento novas startups no estilo do Silicon Valley, que invadem impunemente indústrias já existentes. Nos próximos 10 anos, as batalhas entre incubadoras e insurgentes baseadas em software será épica. Joseph Schumpeter, o economista que cunhou o termo “destruição criativa” ficaria orgulhoso.

E mesmo que as pessoas que assistem aos valores de seus 401k(s) subirem e descerem nas últimas semanas possam duvidar disso, esta é uma estória profundamente positiva para a economia americana, em particular. Não é um acidente que muitas das maiores empresas recentes de tecnologia – incluindo Google, Amazon, eBay e mais – são companhias americanas. Nossa combinação de grandes universidades de pesquisa e uma cultura pró-risco em negócios, largos campos de equidade de capital voltados à inovação e uma legislação confiável de negócios e contratos é sem precedentes e sem paralelos no mundo.

Ainda assim, nós temos vários desafios à frente.

Primeiro, toda nova empresa está sendo construída em face de problemas econômicos massivos, o que torna o desafio bem maior do que era nos relativamente benignos anos 90. A parte boa em se estruturar uma companhia numa época como a nossa é que as empresas que acabarem por ter sucesso serão extremamente fortes e resilientes. E quando a economia finalmente se estabilizar, olhem lá – as melhores novas empresas vão crescer ainda mais rápido.

Em segundo lugar, várias pessoas nos Estados Unidos e ao redor do mundo não têm a educação e habilidades necessárias para participar em grandes empresas que estão saindo da revolução do software. Isto é uma tragédia, já que toda empresa com que eu trabalho está totalmente faminta por talento. Engenheiros de software qualificados, empresários, marqueteiros e vendedores no Silicon Valley podem acumular dúzias de ofertas de empregos com salários altos e grandes vantagens a qualquer hora que queiram, enquanto os níveis nacionais de subemprego e desemprego estão altíssimos. Não há outra maneira de resolver esse problema que não a educação, e nós temos um longo caminho a percorrer.

Finalmente, as novas empresas precisam provar seu valor. Elas precisam construir uma cultura forte, satisfazer os clientes, estabelecer sua própria competitividade e, sim, justificar sua valorização ascendente. Ninguém deve esperar que construir uma nova companhia baseada em software de alto crescimento seja fácil. É brutalmente difícil.

Eu tenho o privilégio de trabalhar com algumas das melhores empresas de software da nova geração, e posso dizer pra vocês que elas são realmente boas no que fazem. Se elas atenderem às minhas expectativas, e as de outros, elas se tornarão pedra angular, altamente valorizadas na economia global, abocanhando mercados muito maiores do que aqueles a que a indústria tecnológica jamais teve condições de aspirar.

Em vez de constantemente questionar suas valorizações, vamos procurar entender como a nova geração de empresas tecnológicas está fazendo o que faz, quais são as consequências mais abrangentes para os negócios e para a economia e o que nós podemos fazer coletivamente para expandir o número de novas companhias inovadoras de software criadas nos EUA e no mundo.

Esta é a grande oportunidade, eu sei onde estou pondo meu dinheiro.

Tradução Vilma Naísia
Original: http://goo.gl/uJwoh

Tecnologia Ploneboard
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